Você sabe o que são jogos psicológicos? Você faz parte do jogo? Qual seu papel neste jogo?

Você sabe o que são jogos psicológicos? Você faz parte do jogo? Qual seu papel neste jogo?

22 de fevereiro de 2021

Quantas vezes você se sentiu confuso(a), constrangido(a), culpado(a), dependente ou com sentimentos negativos diante de uma relação? Esta situação se repete em sua vida?

Quantas vezes você já se perguntou porque o outro faz o que faz, se você sempre faz o melhor para ele(a)? Porque será que você se sacrifica tanto pelo outro e o outro sempre espera que você faça cada vez mais e não te valoriza? Esta situação se repete em sua vida?

Você se sente sempre devendo emocionalmente para outra pessoa? Se você vive ou já viveu esta situação, você provavelmente deve estar participando de um jogo psicológico dramático.

“Jogo psicológico” faz parte da teoria da Análise Transacional, de Eric Berne e pode ser descrito como um mecanismo pelo qual as pessoas evitam os comportamentos fundamentais para a autonomia e independência, em função do seu aprendizado e histórico durante a infância e por isto os jogos tendem a buscar resolver conflitos e carências do passado no aqui e agora. Em suma, ocorre quando a comunicação não é direta, mas cheia de mensagens ocultas.

Outras razões para se jogar, passam por evitar intimidade. Ou seja, pessoas que não aprenderam a amar se assustam diante da possibilidade de estarem diante de pessoas que não escondem “cartas na manga”, onde possa haver uma troca de afetos sem cobranças, uma amizade autêntica e profunda. Isso as assusta por que não sabem lidar com esta autenticidade. Aprenderam o amor de troca, de barganha e se sentem vulneráveis diante de uma proposta de comunicação aberta onde não há armadilhas. Pelo seu histórico, elas possuem a crença de que não existe amor sem troca, ou sem cobrança.

O jogo psicológico é uma unidade de relacionamento com cenas repetidas e um desfecho previsível, há uma motivação oculta, como se fosse um truque, que atende a outra parte do ego que não se manifesta de forma clara, mas que exige uma satisfação.

Por ter uma motivação oculta e por evitar os comportamentos que nos levam a autonomia e independência são padrões disfuncionais de comportamentos que se repetem e reforçam alguns sentimentos e conceitos negativos a respeito de si mesmo, escondendo a expressão direta de pensamentos e sentimentos.

No jogo psicológico se estabelecem relacionamentos tóxicos entre as pessoas e comunicações distorcidas que levam a conflitos.

Explicando melhor, o jogo sempre tem um final previsível e termina com um mal-estar ou uma confusão que causa um benefício emocional, nem sempre consciente, para os jogadores, e o maior deles é manter o script, que é o programa que desenvolvemos na 1ª. infância, até os 7 anos, e que dirige nossos pensamentos e comportamentos nos aspectos da vida. Com o tempo, ocorre o desgaste nos relacionamentos, podendo chegar ao fim.

Nos relacionamentos saudáveis, ao contrário do que ocorre no jogo psicológico, as pessoas se encontram para compartilhar aquilo que são, num clima de espontaneidade, criatividade, autonomia e independência.

Os tipos de condutas padrão não saudáveis existentes nos jogos psicológicos se expressam em 3 papéis: Salvador, Perseguidor e Vítima, chamado de triângulo dramático.

O salvador é aquele que adotou como posição existencial básica, sentir-se superior às pessoas e para tanto, ele precisa ajudá-las mesmo se elas não estão pedindo ou precisando de ajuda. A motivação oculta neste papel, pode ser o de fazer algo para outra, não por carinho ou eficiência, mas para, de forma oculta ou subliminar, mostrar que sabe fazer melhor e para cobrar mais tarde algo em troca. Porque todo Salvador é um Perseguidor em potencial.

Normalmente quem assume este papel, também assume o de perseguidor e o de vítima, se fazendo de “coitadinho”. Pois para poder cobrar ou se queixar, a pessoa precisa primeiro ajudar e ser ‘boa” para o outro.

O perseguidor é aquele que cobra de forma veemente, crítica e autoritária, muito além do necessário. O extremo disso se chama assédio moral. Pessoas podem ser massacradas diariamente, perseguidas ao ponto de prejudicarem a sua saúde física, em face da frequência e intensidade de um relacionamento com este padrão.

A Posição existencial do Perseguidor também é, geralmente, a de superior às demais pessoas, mas é normal também que esta posição seja apenas a fachada, pois no fundo, o Perseguidor se sente tão inferior que ele precisa se fazer superior através de criticar, ameaçar, cobrar, desvalorizar, desqualificar e constranger o outro, por meio deste papel.

A vítima é aquela onde a pessoa nunca fez nada para merecer nada. Ela não assume a responsabilidade pelos seus atos. Se ela erra vai buscar uma justificativa sempre no outro. Quando as pessoas falam sobre ela, costumam colocar sempre a palavra coitada no meio da frase: “a fulana, coitada, não reclama de nada…”. E assim a vítima se protege, usando uma bengala para não ser chamada a pensar e a agir com autonomia nem para responder pelos seus atos, permanecendo em sua zona conhecida de conforto.

Mas porque as pessoas buscam o jogo psicológico? E assumem estes papéis?

Por trás do jogo há uma motivação oculta que visa atender a uma necessidade do passado, seja de carência, seja porque aprenderam a jogar desde a infância, para se defenderem.

Para que o jogo psicológico se estabeleça, são necessários alguns requisitos, são eles:

• Isca (I), parte oculta, inconsciente e psicológica da mensagem e corresponde a necessidade/motivação oculta do primeiro participante ou de seu interlocutor.

• Fraqueza ou fragilidade (F), é o ponto frágil ou vulnerável, indicativo de uma necessidade do segundo participante;

• Resposta (R), ocorre quando o segundo participante responde à isca, em decorrência de sua fragilidade, entrando no jogo. Sua resposta, assim como o estímulo inicial, ocorre em dois níveis: social, que serve de fachada para o jogo e psicológico, por onde o jogo tem seu curso.

• Mudança (M), é a fase em que o primeiro participante muda de papel, determinando a mudança também no segundo participante, gerando surpresas.

• Confusão (C), é o momento de perplexidade que se segue à Mudança e antecede ao

Benefício Final;

• Benefício Final (BF), é o “prêmio” de cada jogador e corresponde ao disfarce que cada um experimenta ao final do jogo. Durante as diversas fases dos jogos, os jogadores experimentam outros pseudo-benefícios, ou ganhos.

Na prática, quem participa de jogos psicológicos, conhece os pontos fracos e vulneráveis do parceiro e coloca o “dedo na ferida”, montando o cenário perfeito (isca) para atraí-lo ao jogo. As vezes o cenário é colorido e bonito, mas o único objetivo é o de fisgar o parceiro.

Uma vez que o parceiro é fisgado e entra no jogo, ele perde a espontaneidade, alegria e principalmente a liberdade de tomar decisões, pois responde de forma automática ao emissor.

Como não entrar no jogo, ou como sair do jogo psicológico dramático?

A primeira coisa é ter consciência de si mesmo, conhecer suas vulnerabilidades, pensar antes de responder ou agir, se auto controlar, sair do automático, ou seja, sair do triângulo Dramático, sair da posição de perseguidor, salvador ou vítima, assumindo outro papel e dando uma resposta totalmente diferente e criativa. Uma forma de medir o sucesso de não entrar no jogo ou de sair do jogo é pela liberdade e bem-estar que você sente.

A única forma de se resolver os conflitos que surgem em decorrência da toxidade da relação, é tornar-se consciente das causas ocultas que dão origem aos conflitos. Identificando em você mesmo os comportamentos nocivos, para não cair na isca novamente, o segundo passo é se auto corrigir, desenvolvendo uma comunicação assertiva, falando dos sentimentos de forma inteligente e criativa. Depois de entender como funcionam as relações nocivas, você poderá se defender com mais facilidade e até ajudar outras pessoas a combaterem seus comportamentos nocivos.

É possível que se você estiver passando por uma fase difícil, você caia novamente no jogo, mas se estiver atenta a isto, você consegue sair rápido. O importante é manter a autoconsciência, sair do automático e buscar relações e situações que lhe traga bem estar.

Saber como não entrar no jogo, ou como sair dele, também lhe fornece conhecimento se você está num jogo e ainda não sabe disto.

O importante é saber como andam seus sentimentos de bem-estar na relação.

Perceba qual o papel você mais assume nas relações e mude o papel.

Se Salvador, a dica é vá se divertir!

Quem está na Posição de Salvador, pode aprender a sair dela deixando de ajudar quem não pede ou não precisa ser ajudado, acreditando na capacidade das pessoas de existirem com autonomia e acreditando que pode ser amado pelo que é e não apenas pelo que faz pelas pessoas. Digo sempre para os Salvadores: “vá se divertir!”, “cuide de você!”.

Se Perseguidor, a dica é ser menos crítico!

Para sair da Posição de Perseguidor, a pessoa pode utilizar seu tempo e sua energia para considerar o todo das pessoas e não apenas as suas falhas ou erros. Pode também buscar uma forma de se sentir importante, pode construir sua existência de glória sem necessidade de destruir o que já foi construído.

Pode exercer seu poder sem humilhar ou denegrir as qualidades dos outros. Pode apontar erros ao invés de criticar duramente.

Se Vítima, a dica é largue as muletas e caminhe!

Para sair da Posição de Vítima, a pessoa pode exercitar seu pensamento lógico.

Como eu posso cuidar de mim? O que eu posso fazer por mim? De que forma posso resolver isso sozinha? Desistir de ter bengalas, de estabelecer simbioses permanentes com as pessoas que estão sempre prontas para respaldar suas de􀃒ciências e buscar o fortalecimento de seus pontos fracos, é o caminho.

Dica geral: Desista da guerra e faça amor!

O Triângulo Dramático de Karpman, portanto, mostra a patologia das relações interpessoais. O desgaste que isso provoca nos relacionamentos é resultado garantido, podendo chegar a algo doloroso chamado fim.

Para Eric Berne, relacionamentos saudáveis são aqueles onde as pessoas se encontram para compartilhar aquilo que são, num clima de espontaneidade, criatividade e autonomia. Segundo ele, a intimidade é a mais arriscada e mais compensadora forma de relacionamento humano. Quem não a pratica, vai praticar os jogos psicológicos, única forma negativa de estruturação do tempo, para abastecer sua bateria com estímulos negativos, uma vez que ela não tem os positivos. E os Jogos Psicológicos garantem este abastecimento. O mais grave deles chama-se guerra.

Portanto o desenvolvimento da Competência Emocional passa por:

1) Reconhecer que nossa forma de pensar determina o que sentimos, como agimos e interagimos;

2) Podemos monitorar e modificar nossa forma de pensar optando por pensamentos mais inteligentes e produtivos;

3) Mudança em nossa forma de pensar altera nossa forma de encarar os desafios e problemas;

4) É possível desenvolver a inteligência emocional a partir de exercícios mentais (diálogos internos e mentalizações).

Nem tudo na vida está sob nosso controle, mas aprender a dominar nossa maneira de pensar poderá fazer toda a diferença do mundo porque maus hábitos mentais nos criam problemas ou até mesmo pioram os que já temos. Além disso, também dificultam nossa tarefa de encontrar soluções nos induzindo a erros de interpretação ou julgamentos sobre o que nos aconteceu. É exatamente quando a gente não pensa direito que criamos e aumentamos os sentimentos de ansiedade, tristeza, culpa, raiva e estresse.

Aprender a gerenciar a dinâmica do PSAI – Pensar-Sentir-Agir-Interagir, nos ajuda a perceber que somos capazes de produzir estados emocionais de maior qualidade como a alegria, entusiasmo e esperança mesmo diante das diferentes provocações da vida.

A ênfase está no papel do “jeito certo de pensar” para o alivio do sofrimento emocional se estivermos dispostos a assumir a responsabilidade pela parte que nos cabe desse aprendizado.

Assim, convido você a refletir se você participa ou estimula jogos psicológicos, com que objetivo e qual papel predominante que você assume.

Você está disposto a mudar?